- Ano: 2018
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Fotografias:Fernando Guerra | FG+SG
Descrição enviada pela equipe de projeto. Situada em Penafiel, Portugal, a Quinta da Aveleda é uma das principais produtoras de vinho verde do país e goza de um patrimônio edificado invulgar rodeado por belíssimos jardins. A criação de um espaço inteiramente dedicado ao enoturismo foi pensada no coração da quinta, no interior de um antigo edifício agrícola – o Edifício da Eira – deixando intacto o seu piso inferior – a Adega Velha.
O projeto de reconversão assenta numa leitura das potencialidades espaciais do edificado pré-existente e aposta na vivência do espaço como um percurso visitável em três atos. Em oposição à densa compartimentação originalmente existente, o edifício organiza-se agora numa sucessão de espaços em contínuo, formalmente relacionados com a volumetria do edificado e que, desenhando uma simetria ausente, vão definindo o desenvolvimento do programa no tempo: a sala de provas (complementada pela copa) – numa das alas laterais –; a vinoteca e a mezzanine – no volume central –; e a loja – na restante ala lateral;
A sala de provas reforça o carácter longitudinal desta ala do edifício através da organização linear das mesas de provas, que promovem até cem lugares sentados; A vinoteca é o espaço de transição entre a sala de provas e a loja, dando também acesso à mezannine. Pretende ser um espaço experiência, dedicado à exposição de vinhos especiais. Cromaticamente distinto, este é um espaço de ruptura que procura criar um ambiente intimista.
Este espaço está intrinsecamente relacionado com a mezannine, que se organiza em dois espaços elevados sobre o piso térreo e um passadiço que os conecta, permitindo uma leitura dominante dos espaços adjacentes. A característica luz deste espaço é filtrada pelas portadas com lâminas fixas em madeira, preexistentes, enquanto a decoração recorre sobretudo a elementos preexistentes em outros espaços da Quinta. Por fim, a loja aposta numa disposição central do mobiliário fixo, libertando, à semelhança da sala de provas, as paredes periféricas do edifício que assim recebem também, entre os vãos que pautam o seu ritmo, memórias fotográficas e escritas e objetos.
Intrínseco ao novo desenho do espaço, está portanto o seu entendimento como espaço-museu enquanto oportunidade espácio-temporal para narrar a história da família que há cinco gerações produz vinho verde naquela região. Recuperando o espírito tradicional das madeiras pintadas – que se pode encontrar em muitas quintas do norte do país –, a intervenção socorre-se a uma composição clássica entre duas cores, o bege e o castanho – que também já existia noutros edifícios da Quinta da Aveleda –, atribuindo-lhe, desta vez, um maior dramatismo e contemporaneidade pela assunção de um forte contraste cromático entre diferentes espaços em diálogo direto.
Ao nível estrutural, importará dizer que, por impossibilidades técnicas, não foi possível manter as asnas originais do edifício: as do corpo central, asnas esbeltas em tesoura sem linha, já não se encontravam no ideal estado de conservação; e as das alas laterais já haviam sido adulteradas para asnas de tijolo armado. Nesse sentido, recuperou-se o desenho invulgar das asnas em tesoura sem linha em madeira – inicialmente apenas existentes no volume central do edifício – e adaptou-se esse mesmo desenho para os corpos mais baixos do edifício.
Ao mesmo tempo que libertam um maior pé-direito dando a sensação de uma maior amplitude espacial, estas asnas invulgares assumem uma iconografia singular, caracterizante deste edifício particular, diferenciando-o dos demais. Concluindo, toda a intervenção espacial assenta no reforço da identidade do edifício, pela potenciação do seu carácter longitudinal, pela simulação de uma simetria inexistente, pela reinterpretação do seu desenho inicial, pela reintegração de elementos originários, recuperando-se a essência vernacular de uma casa de quinta e dotando, subtilmente, o edifício de novas valências, nomeadamente ao nível do conforto térmico (isolamento e AVAC) e acústico.